Afroturismo
Afroturismo é uma modalidade de turismo focada na valorização da cultura, história, ancestralidade e experiências das populações negras. Essa forma de turismo propõe um olhar mais consciente e antirracista sobre os destinos, promovendo o reconhecimento e a celebração da herança africana e afrodescendente.
Em Santos, a história e a cultura afro-brasileira se entrelaçam com o desenvolvimento da cidade em espaços históricos que representam a resistência, a fé e as manifestações culturais da população negra, que desempenhou papel fundamental na formação de Santos e do Brasil. Esta é uma viagem por lugares que preservam a memória da luta, da religiosidade e da herança africana na cidade.
Porto de Santos
O Porto de Santos tem uma relação histórica crucial com a chegada dos escravizados no Brasil, especialmente no contexto do tráfico de escravizados africanos. Durante o período da colonização portuguesa e mais intensamente no Império Brasileiro, o porto desempenhou um papel fundamental no processo de introdução de africanos para o país, principalmente entre os séculos XVII e XIX.
Santos, por ser um ponto estratégico na rota do café, teve uma importância central na economia brasileira. O crescimento da produção de café nas vastas plantações do interior paulista estava diretamente ligado ao uso de mão de obra escravizada de diversas partes da África, como as regiões da Angola, Moçambique, Guiné, Benguela, entre outras.
O tráfico transatlântico de escravizados foi legalmente proibido pelo Brasil em 1850, com a assinatura da Lei Eusébio de Queirós. Contudo, o Porto de Santos continuou a ser um ponto de entrada vital para escravizados ilegais até o fim da escravidão no Brasil, em 1888, com a assinatura da Lei Áurea.

Teatro Guarany
Um dos maiores marcos culturais de Santos, fundado em 1882, o Teatro Guarany é um dos mais antigos do Brasil e, ao longo dos anos, tornou-se palco para manifestações culturais diversas, incluindo muitas que destacam a contribuição da população negra. Durante a visita, você poderá conhecer mais sobre a história da cidade, que foi também um dos portos de chegada dos africanos escravizados, e entender como esse teatro foi um dos primeiros espaços culturais a dar voz e visibilidade à cultura negra na cidade. Além de grandes eventos artísticos, o teatro abrigou manifestações abolicionistas, incluindo discursos do jornalista abolicionista José do Patrocínio.

Igreja do Rosário dos Homens Pretos
Um dos símbolos da resistência da população negra na cidade. Fundada no século XVIII, a Igreja do Rosário foi construída pela comunidade de negros livres e escravizados e serve até hoje como um importante espaço de culto e preservação da cultura afro-brasileira. A Igreja do Rosário é um exemplo de como os negros utilizavam a religiosidade como forma de resistência e de fortalecimento de sua identidade. Ao visitá-la, você poderá se aprofundar na história da fé afro-brasileira, marcada pela junção do catolicismo com elementos do Candomblé e outras tradições africanas.

Casa da Frontaria Azulejada
Uma das construções mais características da arquitetura colonial em Santos. Embora a Casa da Frontaria Azulejada seja mais conhecida por sua fachada adornada com azulejos portugueses, é interessante perceber como essa construção reflete o período da escravidão, quando Santos foi um importante centro de exportação de café e outros produtos. A presença da população negra na cidade também está representada por espaços como esse, que mostram a fusão das culturas africanas e europeias, e o impacto das relações de trabalho forçado e do comércio de escravizados na formação da cidade.
Outeiro de Santa Catarina
Subindo ao Outeiro de Santa Catarina, chegamos a um dos pontos históricos mais importantes de Santos. O Outeiro, que abriga a capela de Santa Catarina, foi um local de grande importância para a comunidade negra, especialmente durante o período colonial. A capela, com seu estilo simples, mas imponente, é um exemplo claro de como os negros preservaram e reinventaram suas práticas religiosas, tornando este espaço um símbolo de resistência cultural.

Sítio Itabatatinga
O Sítio Itabatatinga reserva o legado dos antigos engenhos de açúcar e das plantações de café, onde a presença de negros e negras escravizados foi crucial para o desenvolvimento econômico da região. Este sítio histórico é um ponto de reflexão sobre as condições de vida dos escravizados e a resistência que brotou desses espaços. A visita ao sítio é uma oportunidade de aprender sobre as práticas culturais, as estratégias de resistência e a importância da memória afro-brasileira na construção do Brasil.
Engenho dos Erasmos
Um dos maiores símbolos da escravidão e da economia colonial no Brasil. O Engenho dos Erasmos, que remonta aos tempos da produção de açúcar, nos faz lembrar da contribuição fundamental dos africanos para a formação do patrimônio econômico e cultural da cidade. Aqui, será possível entender melhor como a produção agrícola era intimamente ligada ao trabalho escravo e como o engenho representou não apenas um espaço de exploração, mas também um lugar de resistência e de preservação das tradições africanas.
Quilombo do Jabaquara ou do Pai Felipe
Localizado no bairro do Jabaquara, em Santos, foi um dos quilombos mais conhecidos na cidade. Este quilombo tinha uma forte presença de africanos e afro-brasileiros que fugiam da escravidão nas plantações de café. O quilombo se destacou por sua resistência às investidas das forças coloniais.
O nome Pai Felipe remete a um líder espiritual e guerreiro que foi uma figura central no quilombo. Ele era um líder negro que desempenhou um papel fundamental na organização e resistência dos negros fugitivos. O quilombo recebeu esse nome em homenagem a essa liderança, e o local se tornou um refúgio para muitos negros escravizados que fugiam das plantações de café e engenhos da região.
O Quilombo do Pai Felipe foi um dos vários quilombos que resistiu bravamente às investidas das forças coloniais e de senhores de engenho. As comunidades que formavam esses quilombos eram formadas principalmente por negros fugidos, que buscavam autonomia, liberdade e preservação de suas culturas e tradições. O Quilombo do Pai Felipe se tornou um símbolo da resistência afro-brasileira na região de Santos, e suas histórias de luta ainda são lembradas como um marco da resistência negra no Brasil.
Apesar de sofrer ataques militares e a destruição de muitas dessas comunidades quilombolas, o legado do Quilombo do Pai Felipe e de outros quilombos da região continua vivo na memória cultural e histórica da cidade de Santos. Hoje, o Quilombo do Pai Felipe não existe mais em sua forma original, mas é uma parte importante da memória histórica da cidade de Santos e do movimento afro-brasileiro de resistência à escravidão.

Travessa Anísio José da Costa
A mudança do nome da Travessa Comendador Netto para Travessa Anísio José da Costa, em Santos, ocorreu como parte de um processo de reparação histórica e reconhecimento da contribuição da população negra para a cidade. A antiga denominação homenageava Manoel Joaquim Ferreira Netto, um comerciante e construtor local que foi proprietário de uma senzala com 217 pessoas escravizadas e atuante no tráfico de africanos escravizados.
Em contrapartida, Anísio José da Costa foi um angolano que chegou ao Brasil como escravizado, fugiu para o Quilombo do Jabaquara em Santos e, após a abolição, trabalhou como ensacador no Porto de Santos até os 108 anos. Ele se tornou um símbolo de resistência e longevidade, falecendo aos 110 anos em 1940. Sua filha, Helena, é reconhecida como a última descendente direta de um escravizado ainda viva no Brasil.
A alteração do nome da via foi oficializada pela Lei Municipal nº 4.543, sancionada pelo prefeito Rogério Santos, com base em um projeto de lei da vereadora Débora Camilo (PSOL). A mudança representa um reconhecimento da história afro-brasileira e uma ação simbólica de justiça social.

Museu do Café
O Museu do Café aborda a história da escravização em suas exposições. A exposição permanente “Café, patrimônio cultural do Brasil: ciência, história e arte” inclui uma linha do tempo que destaca a expansão do café no Brasil, mencionando aspectos como a imigração, a escravidão e a construção de ferrovias.
Essas iniciativas demonstram o compromisso do museu em abordar de forma crítica e educativa as diversas facetas da história do café no Brasil, incluindo o papel da escravização na formação da sociedade e economia brasileira.
