Notícias
17/ 02/ 2020
Elite do carnaval santista sacode a passarela Dráuzio da Cruz
“Ê baiana, ê ê ê baiana, baianinha”. Ao ritmo desta conhecida canção, eternizada no imaginário da população pela cantora Clara Nunes, a corte carnavalesca de Santos iniciou a sua passagem na passarela Dráuzio da Cruz, saudando a todo o público que esperava pelo início da segunda noite de desfiles na passarela Dráuzio da Cruz, neste sábado (15).
Composta por Sérgio Luiz dos Santos (Rei Momo), Aline Tatiane Oliveira dos Santos (Rainha) e Aline Aparecida de Oliveira (Princesa) a corte deu por iniciada a festa, desfilando ao som de várias outras canções tradicionais da manifestação cultural mais popular do País. Nove agremiações mostraram na avenida o trabalho realizado ao longo dos últimos meses, diante de arquibancadas e camarotes lotados.
Dragões do Castelo
‘Viagem ao Mundo Encantado dos Erês’, enredo da escola convidada Dragões do Castelo, abriu a segunda noite.
A agremiação colocou na avenida seus 450 componentes, mostrando entidades que representam as crianças, seres de luz segundo a umbanda e o candomblé, representando a alegria, a sinceridade, a inocência e a pureza.
O mestre-sala e porta-bandeira mirins, Alex João Vitor Tomé, 12, e Maria Eduarda Carneiro Barbosa, 11, conquistaram a plateia. Alex contou que foi a quinta vez que fez o mestre-sala. “Comecei aos cinco anos” Já Maria Eduarda estreou como porta-bandeira. “Fui bem, aplaudiam quando a gente passava. Eu me dou 9 ou 10. Quero repetir no ano que vem. “Ensaiamos muito, fiz até bolhas no pé”.
A diretora da agremiação, Gabriela Cristina de Oliveira, que atuou como intérprete, destacou que o desfile teve raça. “Demos o sangue para fazer bonito".
Mãos Entrelaçadas
Estreante no grupo especial, a Mãos Entrelaçadas adentrou a passarela na sequência, com o enredo ‘Assim Caminha a Humanidade em Busca das Origens e da Verdade’, encenado por 1,5 mil integrantes. Ostentando as cores azul, branco, verde e preto, a escola do Rádio Clube mostrou na avenida a evolução da humanidade, desde o homem das cavernas, passando pelo Egito antigo, as antigas civilizações grega e romana, os encantos do oriente, a descoberta da América e a revolução tecnológica.
A união da escola, oriunda da Associação Beneficente Mãos Entrelaçadas, pôde ser vista ainda na concentração, entre os membros da comissão de frente, que se reuniram algumas vezes para troca de energia e palavras positivas.
“Somos uma grande família. Ensaiamos a coreografia durante três meses e representamos o início da humanidade. Somos trogloditas viajantes do futuro e explicamos como o fogo e a roda foram criados”, explica a coreógrafa Janaína Marlene.
Real Mocidade Santista
A Real Mocidade Santista, que completa 35 anos de fundação, apresentou ‘Ayo, o Senhor dos Tambores’, grande espírito da música. Seus tambores também conduziram o desenvolvimento do samba.
Com 1,4 mil componentes, em 14 alas azul, verde e branco, quatro casais de mestre-salas e porta-bandeiras, e uma bateria de 130 integrantes, a agremiação levantou a plateia.
Rainha da bateria por dez anos, Néia Ribeiro, 35, despediu-se da função. “Construí uma história e vou passar o bastão. Mas continuo desfilando”.
Unidos dos Morros
A formação de mais de 110 mil de jovens carentes ao longo dos 53 anos do Centro de Aprendizagem e Mobilização Profissional e Social de Santos (Camps) inspirou a Unidos dos Morros, que apresentou o enredo ‘Beleza de ser um eterno aprendiz’, apresentado por 1,5 mil componentes – cerca de 400 deles jovens e apoiadores do Camps.
A agremiação das cores azul, verde e branco destacou todas as etapas na vida de quem se forma nesse centro de aprendizagem, desde a situação de vulnerabilidade social no início, a formação e a transformação de vida com base no conhecimento.
“A homenagem tem tudo a ver, porque o Camps é um projeto voltado a comunidades, que já atendeu milhares de jovens vindos dos morros. Vários deles que tiveram a primeira oportunidade de trabalho conosco, tornaram-se personalidades políticas e do meio empresarial da cidade”, afirma Elias Francisco da Silva Jr., presidente do Camps.
A paradinha da bateria Chapa Quente, do Mestre Daniel Corrêa, encantou o público, que estava com o samba na ponta da língua e entoava a letra a plenos pulmões quando a bateria silenciava.
União Imperial
Tendo Viviane Araújo como rainha da bateria e Sheila Carvalho de madrinha, a bicampeã União Imperial levou à passarela ‘De Verde, Rosa e Louco, todo mundo tem um pouco’.
Entre seus 1,8 mil integrantes, lunáticos, insanos e alienados, numa verdadeira sandice carnavalesca, foram representados por figuras históricas, como Dona Maria I – Maria, a Louca -, Dom João VI, Napoleão Bonaparte e seu médico Philippe Pinel, e até o nosso maluco beleza, Raul Seixas.
Pela quarta vez desfilando na União, Sheila disse estar fantasiada de cientista doida. “Mesmo tendo desfilado várias vezes na escola, estou ansiosa.” Viviane também estava com ‘um frio na barriga’. “Agradeço a Deus por mais um carnaval, por ter feito história no Rio de Janeiro, em São Paulo, e agora aqui em Santos. Sinto-me orgulhosa.”
Amazonense
A Mocidade Amazonense, de Vicente de Carvalho (Guarujá), aproveitou o desfile para mandar vários recados em mais de 30 balões em formato de coração e cheios de gás hélio.
“A cada paradinha da Bateria Feitiço da Ilha, integrantes da escola soltam um balão com mensagens como ‘Somos todos Iguais’, ‘Mais amor’, ‘Não ao racismo’, ‘Não à intolerância religiosa´”, explicou Mestre Pepeu, que comandou 150 ritmistas da verde e branco.
Com 1,1 mil componentes, a escola mostrou a evolução do samba desde a sua origem, com os escravos e a derivação do candomblé, passando pelo sucesso nos morros cariocas e nas rádios e sua resistência até os dias atuais com o enredo ‘Quilombo do Samba! Coisa de Pele...”.
Mocidade Dependente do Samba
A Mocidade Dependente do Samba, de Cubatão, desfilou com 1,5 mil participantes o enredo ‘Dos Enigmáticos Faraós Negros à África Brasil’. Em busca do primeiro título do carnaval santista, a escola mostrou a luta do povo negro desde o Egito antigo até desembarcar em terras brasileiras e como o faraó, tido como um deus vivo, tinha todo o poder.
Para o presidente Severino de Oliveira, o ‘Tatai’, depois de quatro anos no grupo de acesso, desde o ano passado a agremiação voltou ao grupo especial. “Neste ano, após quatro meses de ensaio, entramos na avenida para sermos campeões. A comunidade abraçou a escola”.
X-9
Vice-campeã de 2019, a X-9 contou a história da cidade de Bertioga por meio do enredo ‘Berço da História do Brasil’, desde a época que somente os índios habitavam o local, passando pela ação dos colonizadores, a importância da pesca, entre outros aspectos naturais e de lazer.
Destaque para o último carro alegórico, que trouxe a emocionante Parada de Natal de Bertioga para a avenida, com direito a presépio, renas puxando o trenó do Papai Noel e muita luz. O evento é considerado um dos eventos mais importantes da cidade e atrai milhares de pessoas.
“Fizemos uma imersão na cidade, para que os moradores se identificassem com o enredo. A história de Bertioga se confunde com a de Santos, por ser um ex-distrito, emancipado em 1992”, lembrou Caio Nunes, vice-presidente da Pioneira.
A verde, vermelho e branco do Macuco cruzou a Passarela Dráuzio da Cruz com 1,5 mil integrantes e a Bateria Xisnoveana, do mestre Jefferson Pires, realizou três bossas e uma parada longa.
Vila Mathias
Encerrando a noite, o grêmio recreativo Vila Mathias trouxe ‘Sou Vila, Sou Diversidade, Vou Cantar Dicesar, que Felicidade...Adóoogo’, enredo inspirado no ex-Big Brother Brasil 10, Dicesar e na diversidade.
Seus 1,3 mil componentes desfilaram em amarelo, azul e branco a trajetória do maquiador paranaense que à noite transforma-se na drag queen Dimmy Kieer. Sua gíria alegre ‘Adóoogo’ (adoro) ganhou as ruas e virou quadro de sucesso na TV.
“Temos ala para os LGBTQs, pessoas com deficiência e plus size”, disse o presidente, Luiz Fernando dos Santos. O sobrinho dele, Gabriel, 16 anos, tem paralisia cerebral e desfilou na ala inclusiva da escola, que também contou com intérprete de Libras (Língua Brasileira de Sinais).
Dicesar, que desfilou em carro alegórico com a família, declarou que é a primeira vez que recebe a homenagem de uma escola de samba. “São 32 anos como maquiador e 28 como Dimmy Keer. Estou feliz de ser homenageado em vida”.
Imagem: Anderson Bianchi