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Primeira escola de samba santista surgiu em 1930 e desfile oficial só em 1956; saiba mais da história

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Nesta sexta e sábado (21 e 22), 15 agremiações da Baixada Santista participam do Desfile das Escolas de Samba 2025 de Santos, na passarela Dráuzio da Cruz, na Zona Noroeste. E se tem um assunto que tem bastante história é o carnaval santista, desde o século 19, com suas primeiras manifestações carnavalescas. Vamos lembrar um pouco desse passado de folia, quando Santos era conhecida nacionalmente por ter o segundo carnaval mais animado do Brasil, desde os cordões, ranchos, blocos, como o famoso 'Dona Dorotéia, Vamos Furar Aquela Onda?´, o surgimento das escolas de samba, em 1939, os desfiles e as bandas, muitas que ficaram para sempre no coração dos santistas. O Santos Portal vai começar contando mais sobre a história dos desfiles em Santos. Confira:

O carnaval é uma tradição na cidade desde o final do século 19, sendo considerado o segundo mais animado do Brasil, atrás do Rio de Janeiro. Mas, as escolas de samba só começaram a surgir em 1939, com a presença da “Não é o que Dizem” nos festejos de comemoração do centenário de elevação de Santos de vila à Cidade. Depois vieram Dois Pinguins (1940), Número Um do Canal 3 (1941), Aí vem a favela (1942) e a X-9 (1944).

 
Terreiro da X-9, conhecida como a Pioneira; Integrantes da Brasil, que tem uma história quase octogenária e Escola de Samba Vitória, que existiu entre 1945 e 1949 (Fotos: Memórias do Samba Santista)

Somente em 1947 aconteceu a primeira disputa, por iniciativa dos veículos de comunicação e apoio do comércio. O desfile aconteceu na Rua General Câmara e foi vencido pela X-9, com a extinta Vitória sendo vice. Eles ainda não tinham caráter oficial, eram as conhecidas “batalhas de confete”.

 
(1) X-9 vence primeiro concurso extra, em 1947; (2) Desfile da X-9 no Gonzaga em 1955, (3) Brasil desfilando em 55, ano que foi campeã, (4) Favoritos do Sutão, (5) Carnaval nos anos 60 e (6) Agora vai - Fotos: Acervo pessoal J. Muniz

Em 1954 foi realizado o primeiro concurso extra-oficial, organizado pela Prefeitura, na Praia do Gonzaga, vencido pela Brasil. Dois anos depois, em 1956, o primeiro desfile oficial, cumprindo lei municipal nº 1761, com a X-9 e Brasil dividindo o primeiro lugar.

 
(1) Carnaval em 1965 na Praça Independência; (2)- Desfile da X-9 na Ana Costa (as duas de José Dias Herrera - Acervo Fams); (3 de 4) Carnaval na década de 60 (Foto: IHGS); (5) Foliões na Avenida Ana Costa (Acervo Fams)

A evolução das escolas chegou ao ponto de, de 1966 a 1971, Santos sediar um "Campeonato Estadual de Samba", com a participação de agremiações locais, de São Paulo, Campinas e Ribeirão Preto. A Império do Samba foi campeã estadual de 1967 a 1970.

 
Escolas evoluíram bastante depois dos primeiros desfiles em Santos

Mais do que isso, a Cidade recebeu duas convenções nacionais de Rei Momos, o Festival de Samba (Fesamba), com a primeira edição em 1979 com escolas do Rio de Janeiro, São Paulo e interior paulista e os Simpósios do Samba, os primeiros em 1966 e 1967, com programação teórica e recreativa com concursos e festa com participantes de todo País.

 
(1) Cartaz da Convenção Nacional dos Reis Momos (Memória Santista); (2) Regatas Santista, em 1972; (3) Simpósio do Samba; (4) Primeira edição do carnaval estadual; (5) Chamada sobre o carnaval estadual no Jornal Cidade de Santos

Já que falamos em Convenção Nacional dos Reis Momos, não tem como deixar de mencionar Waldemar Esteves da Cunha, que ocupou o posto de Rei Momo de 1950 a 1991 em Santos, o reinado mais longo que se conhece no País. Waldemar ficou conhecido no tradicional ‘Banho da Dorotéia’, ganhou o concurso em 1950. Em 1991, passou a coroa para Dráuzio da Cruz, mas voltou entre 2000 e 2001 para finalizar seu reinado. O ícone do carnaval santista morreu em 2013, aos 92 anos.

 
Waldemar Esteves da Cunha: (1) Foto: Rubens Fortes (Novo Milênio); (2) Descontração da corte em 1981 (Acervo Fams); (3) Em 2006 (Foto: Leandro Amaral / Novo Milênio)

Vale destacar também o prestígio das escolas de samba santistas. A extinta Império do Samba, por exemplo, é madrinha da Vai-Vai, Império do Cambuci e Mocidade Alegre, além da Mocidade Independente de Padro Paulo. A Brasil chegou a disputar e vencer o Carnaval de São, em 1954. Já a X-9, a “Pioneira”, maior vencedora do carnaval santista, também é conhecida por ter inspirado os sambistas que fundaram a X-9 Paulista. Em 2024, Brasil e X-9 foram reconhecidas como patrimônios imateriais da Cidade.  Com base nesta lei, as agremiações vão se manter como especiais, nos concursos que tenham recursos da Prefeitura, desde que atinjam ao menos 70% da pontuação necessária.

 
Fotos da exposição Raízes do Samba Santista: as histórias de X-9 e Brasil (IHGS e Memorias do Samba) e fotos recentes das duas escolas (Arquivo/PMS)

A partir de 76, o concurso oficial de Santos passou a contar com agremiações de São Vicente, Guarujá, Cubatão e Praia Grande, transformando-se no Campeonato Regional de Samba, oficializado em 1982, por sugestão do cronista Cabo Batucada. A E. S. A Mocidade Independente Padre Paulo foi a primeira campeã regional. Em 1984, o certame reuniu apenas agremiações da cidade, voltando a sediar o Campeonato Regional em 1985, tendo sido igualmente promovido 86, com a União Imperial conquistando o bicampeonato regional.

 
(1) Escola de samba Padre Paulo desfilando em 1988 (Foto: Ademir Henrique/AT); (2,3 e 4) - Desfile de escola de samba em Santos, final da década de 1980 - Fotos: Encarte D.O Urgente

Durante muito tempo os desfiles das escolas de Samba de Santos foram itinerantes, sendo realizados em diversos pontos da orla. Em 1997, uma ação civil ajuizada pelo Ministério Público proibiu o carnaval nas avenidas da praia. Em 1998, foi para a faixa portuária e, no ano seguinte, não foi realizada. Em 2000 retornou a orla por meio de uma liminar de efeito suspensivo obtida pela Prefeitura na Justiça.  De 2001 a 2005, a cidade ficou sem desfile, retomado em fevereiro de 2006, com a construção da Passarela de Samba Dráusio da Cruz, no terreno do Estradão (Zona Noroeste).

 
(1) Sambódromo em construção na Zona Noroeste, (2) retoques finais na passarela do samba e (3) desfile (Arquivo/PMS)

Inaugurado em 23 de fevereiro de 2006, o espaço que abriga o desfile de escolas de Samba foi denominado "Sambódromo Dráuzio da Cruz", levando o nome de um dos principais sambistas da história da região, que foi fundador da pioneira Império do Samba, rei momo do carnaval Paulistano e cinco vezes campeão do Carnaval estadual. Dráuzio também foi um dos fundadores da Escola de Samba Brasil (1949) e da Príncipe Negro (1954), já extinta. Organizou o primeiro Sambão em Santos, na Rua Campos Melo, que funcionou de 1970 a 1974.

 
Dráuzio da Cruz era estivador (Arquivo pessoal de J.Muniz Jr.)

Em 2008, surgiram três novas escolas de samba: Banda da Vila Mathias, Mocidade Dependente do Samba e a Camisa Alvinegra. Foi então que a cidade de Santos ganhou um Grupo de Acesso, pois quinze agremiações seriam demais. As três novatas disputaram em 2009 como pleiteantes ao Acesso, enquanto as outras doze passaram a correr o risco de que duas delas caíssem para o Acesso, compondo dez no Especial e cinco no Acesso. As primeiras a caírem foram a Unidos da Zona Noroeste e a Metropolitana.

 
Desfile no sambódromo Dráuzio da Cruz - Foto: Arquivo/PMS

Em 2016, a cidade de Santos foi homenageada no carnaval carioca pela Acadêmicos do Grande Rio. Desde então, o desfile das escolas de samba na Cidade passou a ser antes do carnaval oficial, a fim de não coincidir com os grandes carnavais e permitir que os santistas pudessem curtir a folia em outros locais.

 
Grande Rio homenageia Santos no carnaval carioca - Foto: Divulgação/Riotur

Desde o início dos desfiles oficiais, a maior campeã do carnaval santista é a X-9 com 19 títulos, seguida pela Brasil (11), União Imperial (10), Império do Samba (8), Padre Paulo (7), Unidos dos Morros (5), Mocidade Amazonense (2) e Sangue Jovem (1).

 
X-9 é a maior vencedora com 19 títulos - Foto: Arquivo/PMS

 

Vale lembrar que parte destas informações foram obtidas com a maior autoridade da história do samba da Região, o historiador e Marechal do Samba J. Muniz Jr, em uma de suas muitas obras: “Memórias do Carnaval Santista”. Atualmente com 90 anos, J. Muniz Jr é jornalista, reside em Santos desde 1938, foi cronista carnavalesco e colunista do jornal O Diário, Cidade de Santos e A Tribuna. Sambista desde a década de 40, pesquisador e autor de mais de 40 enredos para escolas de samba de todo Brasil. Foi um dos idealizadores dos Simpósios do Samba, que realizavam intercâmbio e uniam escolas santistas, paulistanas e do Rio de Janeiro. Também publicou obras como “Panorama do Samba Santista” (1976) e “X-9: Escola Pioneira” (1978). Esses trabalhos tiveram continuidade nos livros “O Samba Santista em Desfile” (1999); “O Negro na História de Santos” (2008); “Memórias do Carnaval Santista” (2013) e “Nos Tempos da Batucada - As Origens do Samba Santista” (2013). Sua história está muito bem retratada no livro “A Saga do Marechal do Samba, J. Muniz Jr.”, obra publicada pelo seu filho Jadir Muniz de Souza, em 2024.